sábado, 9 de janeiro de 2010

Casamento Gay e aula de Política

Povo meu, Portugal aprovou ontem a proposta de lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. E com isso, vai ser (se Cavaco não vetar) o oitavo país do mundo a aceitar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

Antes de soltarmos os fogos, e sairmos por aí a elogiar a mente aberta dos tugas, vamos fazer uma pequena analise disto:

Até 1982, ser homossexual era crime em Portugal. Até 2001, nem os direitos da união de facto eles tinham. E agora foi aprovado o casamento. Porque?

Juro que queria dizer que foi porque o povo percebeu que é o mais justo, que não faz sentido negar esse direito. Mas não foi. Foi aprovado agora como agenda política. E porque eu digo isso?

Em 2008, um projecto semelhante foi vetado pelo mesmo PS que hoje se rejubila e enche a boca para dizer que é pela iqualdade. Na altura, uma senhora disse que "os homossexuais podiam ter suas preferências, mas que não deveriam ter o direito de se casarem."

Então, pouco mais de um ano depois, a lei é aprovada, com direito a Sócrates disser que "a medida era parte de seu esforço para modernizar Portugal." Perceberam agora? A lei não foi aprovada em 2008, porque não seria a cara do Sócrates que estaria nos jornais internacionais como sendo "percursor da igualdade".

Não se enganem, isso ainda é um país católico, tanto que, mesmo aprovando a lei, os deputados colocaram a polícia do parlamento para proibir demonstrações de afecto por parte dos homossexuais.

E esse não é o único problema. A lei é boa, mas é injusta. E a forma como ela foi feita também. A forma apressada com que o PS levou a cabo a proposta, dá margem a gritos da direita de que a lei seria inconstitucional. Mais absurdo que isso, a lei prevê que os homossexuais podem casar, mas não podem se candidatar a adopção. E nessa hora eu dou a palavra ao arauto da igualdade, Senhor "engenheiro" José Sócrates, que diz:
[o casamento homossexual é] uma questão totalmente diferente da matéria da adopção, na adopção não está em causa realizar um direito de pessoas livres e adultas. Está em causa, sim, assegurar o interesse das crianças que compete ao Estado. (fonte)
Falou o primeiro-ministro. Daí se traduz: homossexuais são "gente" para casar, mas essas "aberrações" não podem criar uma criança.

Aí você se pergunta, leitor: Porque fazer uma lei assim, fraccionada? Porque não aprovar a adopção junto com o casamento? Simples!! Plataforma eleitoral. E nessa hora damos a palavra ao líder parlamentar do PS, Francisco Assis, que disse:
[A adopção por casais homossexuais] é uma questão sobre a qual se deveria fazer uma discussão. E há agora condições para a fazer. O PS tem um compromisso que agora honrou. Claramente não tem mandato para ir mais longe e por isso não creio que nesta legislatura o PS esteja em condições de apresentar qualquer iniciativa legislativa nesse sentido. (fonte)
Ora veja! O PS está a trabalhar aos pedaços, esse mandato aprova o casamento, no próximo aprova a adopção. Isso que é um partido pela igualdade!! Daí se vê que a discriminação continua em Portugal, só que agora é mais subtil.

De toda forma, pelo mal ou pelo bem, um direito foi adquirido ontem, e embora eu - e outros - não descansemos enquanto os homossexuais tiverem os mesmos direitos que os heterossexuais (casar, adoptar, fazer inseminação artificial, ser família de acolhimento, ter direitos de herança, de guarda legal de menores, etc), devemos estar felizes. Uma vitória foi conseguida ontem, e esperemos que outras se sigam a ela.