segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Conto (a versão de Katrina)



Katrina havia finalmente se libertado do mundo dos livros. E andava contente consigo mesma. As suas idéias, que não haviam sido aceitas no monastério, agora eram bem vindas entre os estudiosos do mundo exterior. A previsão de Meste Zózima de que ela não seria feliz fora dos muros do mosterio não se cumprira.

Não que Katrina desse atenção as idéias e previsões de mestre Zózima. Katrina gostava de pensar por si só... Sua mãe havia lhe ensinado, desde a mais tenra infância, que só é digno de ser seguido aquele que age de acordo com suas palavras. E mestre Zózima não fazia assim. Afinal, se ele soubesse tudo que ele imaginava saber, saberia que o seu discipulo favorito (a quem, segundo se contava a meia voz, ele teria ensinado a arte da Alquimia) fugiria do monastério. Sua mãe também lhe dera a paixão pelas descobertas. Katrina adorava desvendar segredos. E o mundo exterior era um poço de segredos ainda não descobertos...

Ela passou a frenquentar a biblioteca a fim de descobrir os segredos do mundo exterior... e foi lá, na biblioteca, que Katrina encontrou num certo dia o monge que havia fugido do monastério, Aliocha. Katrina o reconheceu... mas ele não. Parecia estar sob um feitico, um encatamento.... Ele estava a algum tempo no mundo exterior, e vinha a biblioteca continuar seus estudos (segundo o mesmo tinha revelado a Katrina).

Katrina não gostava de monges... eles eram, na sua maioria, muitos cheios de si, e ela não concordava com as regras seguidas por eles. Mas aquele monge era diferente. Ele também não concordava com várias das regras do monastério (daí o motivo da sua fuga), mas permanecia como monge por amor. E do amor Katrina nada conhecia.

Aliocha definitivamente era diferente de tudo que ela já havia visto. Ele tinha amor aos estudos... tinha também uma sabedoria inata. A jovem russa se perguntava como ele poderia ser tão inteligente... era como se ele conhecesse todos os segredos e mistérios do mundo. Mas o melhor daquele russo era que ele estava disposto a compartilhar os seus segredos com Katrina.

Passaram a se encontrar com regularidade. Mas Katrina não mais estudava os segredos do mundo exterior, e sim os segredos daquele jovem ex-monge. Já não se interresava mais com os problemas da Rússia, todo seu interresse era pelo jovem russo a sua frente. Falavam sobre tudo, das teoria do fim do mundo a febre do czar, e ela cada vez mais se encantava com a sabedoria dele. Ele ainda a fazia sorrir. Ninguém, em muito tempo, a tinha feito sorrir. E katrina admirava ainda mais Aliocha por isso.

Um dia, numa de suas caminhadas pelas esquinas de Moscou, Aliocha lhe pediu um beijo. Mas, pelo czar! Ele era um monge! Katrina não podia fazer aquilo! E por isso disse não, apesar de querer dizer sim. Mas Aliocha era insistente, lhe pediu para beijar a face (que mal há nisso? - pensou a jovem) e atendeu o pedido dele. E soube, no instante sua face foi tocada pelos lábios de Aliocha, que cometera um erro. Soube que estava sob o feitico de Aliocha.

Em uma noite de chuva, lua escondida, eles passearam pelas ruas e esquinas de Moscou. Juntos. E ali, no compasso inevitável das horas, na espera nervosa pela carruagem, na água de chuva a molhar rostos, cabelo e almas, um beijo nasceu. E Katrina nada podia fazer a respeito, afinal ela estava sob o feitico de Aliocha. E ali, naquele exato momento, Katrina descobriu mais um segredo: O Amor. Descobriu também que a vida fora dos livros era muito mais interresante do que jamais o fora. E soube, no íntimo do seu ser, que a sua história com aquele monge alquimista estava apenas comecando...
(Béria Lima)


(publicado originalment no Cruz sub Rosa)

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